É comum discutir-se sobre
motivação, cujo conceito mais adequado é um motivo para se agir, portanto,
motivação significa essencialmente que se crie uma causa para buscar-se a ação,
é algo que parte também de dentro para fora de cada um de nós, ou seja, temos
que nós mesmos criar tais motivos para agirmos traçando objetivos a serem
atingidos. Há quem entenda que a motivação parta apenas de cada um de nós, o
que procede em parte ao meu ver, realmente o maior responsável por ela somos
nós próprios, não podendo delegar isto aos outros ou mesmo às empresas nas
quais trabalhamos.
Entretanto, nem todas as pessoas
tem conscientização e em certos casos capacidade para se automotivarem,
necessitando de apoio e dicas de outras pessoas mais experientes e motivadas, assim, nem
sempre se pode ficar esperando que uma pessoa se motive sozinha dependendo do
perfil dela.
Entendo, que a motivação tenha
duas inspirações, uma da própria pessoa e outra de fora de alguém que a ajude
caso seja preciso, não fosse assim, todo mundo estaria motivado sozinho,
sabendo como e quando agir, o que num mundo como o nosso nem sempre ocorre.
Claro que não ajude alguém de fora ou mesmo uma empresa tentar motivar alguém
se a pessoa mesma não fizer a sua parte colaborando.
Feita esta breve introdução, na
qual ouso contrariar em parte a literatura que defende que a motivação seja
algo interno de cada um apenas, vamos ao foco desta minha postagem de hoje 26
de Março de 2017 que marca mais um ano do meu ingresso como Professor
presencial numa sala de aula, sendo uma data especial para mim, optei por
dividir parte da minha história de vida profissional, para ajudar a outros a
também se motivarem.
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Imagem Prof. Juliano Correa da Silva |
Como infelizmente ocorre até os
dias de hoje tive de passar pelo grande desafio da conquista do 1º emprego,
onde nossa inexperiência tanto humana quanto profissional são vistas por
algumas empresas como um empecilho, para reduzir tal dificuldade na época já no
ensino médio optei por realizar um Curso Técnico em Contabilidade, mesmo
estando paralelamente servindo ao Exército Brasileiro, algo que tornou meu
desafio de concluir o curso mais difícil pelas constantes faltas que as escalas
de serviço na guarda me impeliam. Para amenizar meu índice de faltas trocava
escalas de guarda aos dias úteis por finais de semana, assim, consegui não
rodar por faltas e ao mesmo obter o conhecimento que eu buscava, mesmo bastante
cansado por ficar no quartel ao dia, estudar à noite e tirar guardas em fins de
semana, enfim, eu descansava muito pouco.
Conclui meu Curso Técnico pouco
antes de ser liberado do Serviço Militar, e a partir da minha liberação usei o
diferencial de ter servido como uma experiência de vida e maturidade pela
disciplina de mim lá exigida, ao mesmo tempo, a conclusão do curso técnico não
foi motivo para que eu parasse de estudar, passei a fazer cursos
profissionalizantes literalmente seguidos, realmente um após o outro todas as
noites e até em alguns dias junto ao SENAC/RS. Eu buscava fechar todas as
lacunas de experiência do meu currículo, tendo focado minha carreira para a
área de escritórios, então fiz cursos de contabilidade informatizada, auxiliar
de escritório informatizado, informática básica, informática focada no pacote
Microsoft Office em especial no Word e Excel, que eram e ainda são vitais que
se domine para a área administrativa, além de outros diversos cursos que ia
fazendo.
No curso técnico em contabilidade, havia ficado com um gap na área de
Departamento Pessoal, processo com o qual tinha passado com nota mínima e com o
qual não me identificava, pois, meu alvo era ser um Contabilista focado nas
áreas contábil e fiscal, porém, eu havia mapeado que o mercado contábil
envolvia ainda o domínio de Departamento Pessoal.
Então também fiz este curso junto
ao SENAC/RS, e muito me identifiquei com o processo, mas ainda assim, mantive o
foco contábil em minhas procuras por emprego, mesmo sem abrir mão de outras
oportunidade na área de escritório, minha missão era árdua, entrevistas até
ocorriam mas o fator experiência profissional era sempre um embaraço e numa
época onde os estágios não eram difundidos e bem aceitos como hoje.
Ao invés de me desanimar com cada
reprovação em entrevista, eu refletia ao final de cada uma onde eu deveria
melhorar, tanto no meu desempenho nelas, como no meu currículo, enfim, tirava
isto como um aprendizado que cada vez mais me motivava, assim, sempre me
mantinha eufórico e tinha um desempenho gradualmente melhor nas mesmas.
Na época o SENAC/RS instituição
na qual era um aluno frequente, criou uma unidade de serviço de empregos
chamado SENAC EMPREGOS que muito sucesso fez no Sul, e que cadastrava seus
alunos e ex-alunos para oportunidades no mercado, após algumas entrevistas em
outras empresas, certo dia fui surpreendido para realizar uma entrevista no
próprio RH do SENAC/RS. Fui muito bem na entrevista com a psicóloga e tive um
bom desempenho nas avaliações psicológicas, sendo novamente surpreendido para o
encaminhamento numa entrevista final com o Gestor de Departamento Pessoal do
SENAC/RS.
Este nobre profissional, ao qual
até hoje reconheço e devo o começo da minha carreira, fez uma entrevista onde
mais se preocupou em avaliar os meus potenciais e cursos do que a experiência
inexistente em empresas anteriores. Somado a isto, o desafio que a mim seria
proposto era árduo e repetitivo, o que exigiria muita disciplina, persistência
e foco, que naquela ocasião seria recusado por profissionais mais experientes.
O desafio era de atualizar mais de 800 fichas de registro de empregados e suas
respectivas Carteiras de Trabalho e de Previdência Social - CTPS desatualizadas
por mais de 5 anos, em épocas onde inflação tinha prevalecido com reajustes
sucessivos a serem anotados mensalmente, além de gozos de férias e
contribuições sindicais não anotadas.
Assim, fui admitido em Dezembro de 1994,
para um trabalho de 40h semanais centrado frente a uma máquina de escrever por
8h diárias atualizando fichas ou preenchendo manualmente inúmeras CTPS de
empregados. Em pouco tempo a mim foram agregadas outras tarefas rotineiras
desprezadas pelos meus colegas mais experientes como a realização de Admissões
que eram várias pelo porte da empresa, e a organização constante de arquivos
manuais e imensos.
Foi um trabalho inicialmente
prazeroso por ser meu 1º emprego, mas a rotina repetitiva passado mais de 1 ano
de tarefas rotineiras, não mais significava um desafio. Amenizando tais
repetições me foi delegado as homologações de rescisões de contrato junto ao
Sindicato, mas minha participação neste processo era limitada a isto.
Realmente apesar das rotinas,
experiência eu alcancei, mas não no todo do Departamento Pessoal, então para
amenizar isto, desde meu ingresso continuei realizando cursos no próprio
SENAC/RS à noite, imediatamente após meu trabalho sobre os processos de
Departamento Pessoal, obtendo um conhecimento teórico de toda a área, embora me
faltasse espaço e tempo para praticar.
Ciente disto, minha chefia estava
preparando um novo estágio de tarefas para mim, mas foi surpreendida por uma
demissão sua política e no dia seguinte já tínhamos um novo gestor no
Departamento Pessoal.
Este profissional em busca de
resultados rápidos e sem nenhuma paciência e nem mesmo interesse em desenvolver
a equipe, optou pelo caminho mais simples, o de desligar os menos experientes
trocando-os por profissionais prontos do mercado, então poucos meses após a
saída do meu 1º gestor fui demitido em Julho de 1996 por ter conhecimento
restrito de Departamento Pessoal.
O recomeço novamente não foi
fácil, pois, recebia um alto salário no SENAC/RS e uma grande gama de
benefícios, os quais certamente abri mão, mas algumas empresas não aceitavam,
pois, achavam que meu foco seria retomar ao patamar recuado.
Até que certo dia lendo um
anúncio de jornal me deparei com uma vaga de Auxiliar de Escritório para o
Departamento Pessoal da Sociedade Gondoleiros, e me candidatei a ela. Fui
entrevistado pelo Contador da sociedade, que viu em mim muita qualificação e
por uma pretensão salarial alta, que contrariando os demais entrevistadores,
aceitou o meu recuo salarial e argumentos de que o que o SENAC/RS me propiciou
era também pelo seu grande porte.
Ao chegar na Sociedade em
Novembro de 1996, assumi de cara um Departamento Pessoal, que embora pequeno,
que tinha uma infinidade de problemas por rotatividade de profissionais deste
departamento. Este desafio me permitiu por em prática tudo o que estudei e
ainda continuava estudando nos cursos que eu fazia, pois, desenvolvimento é
algo contínuo e comigo já era assim. Solucionar tais problemas me permitiu
aprender com eles, além disto, sendo um departamento pequeno meu tempo era
maior para resolvê-los.
O problema não era resolver, mas como resolver, para
isto a iniciativa é palavra chave, quando meu conhecimento não era suficiente
para sanar os mesmos, eu perguntava aos meus professores, lia informativos e
sendo preciso visitava órgãos como Ministério do Trabalho, Previdência Social e
Caixa Econômica Federal de onde sempre vinha com as respostas. Em menos de um
ano deixei o Departamento Pessoal da sociedade ordenado, e mais que isto
aprendi muitos processos novos.
Não me limitei a ordenar a casa,
mas também de melhorar ela, então passei a informatizar rotinas e a por em
prática itens novos como o Trabalho Temporário e contratação de Estagiários,
rotinas com as quais eram novas para mim, aprendendo com os próprios órgãos. Implantei
entrevistas de emprego, e passei a realizar entrevistas pondo em prática
conhecimentos e leituras em livros e cursos de RH. No geral fiquei quase 2 anos
na Sociedade a qual reconheço como apoiadora do meu reinício de carreira, até
que em Julho de 1998 fui aprovado num processo seletivo para Assistente de
Departamento Pessoal na empresa Ecco-Salva Emergências Médicas.
Além de um bom desempenho nas
entrevistas com a gerente administrativa e com o diretor geral da entidade, o
que alavancou o meu diferencial frente aos demais candidatos, foi o fato de eu
ter literalmente Gabaritado um difícil Teste Escrito de Departamento Pessoal,
onde muitos eram reprovados ou aprovados como notas baixas segundo a Gerente.
Este Gabarito foi fruto de uma mente que estava sempre lendo, pesquisando,
praticando e realizando cursos, pois, embora o teste era difícil para mim foi
fácil em virtude disto.
Este recomeço de carreira me
permitiu ingressar numa empresa sólida, onde meu salário atingiu um patamar
adequado e onde novamente muito pratiquei e aprendi, tanto é que em um mês
passei de Assistente para Supervisor de RH e nela fiquei por 6 longos anos até
Julho de 2004, tendo implementado um RH sólido com processos de Departamento
Pessoal ordenados e seguros, pude aprofundar o Departamento Pessoal em sua
plenitude implantando e operado a folha de pagamento informatizada, o ponto
eletrônico, calculando diferentes tipos de rescisões de contrato de trabalho,
férias, etc.
Meu desenvolvimento foi tão alto que passei a ser Representante da
empresa nas Comissões de Negociação Sindical junto ao sindicato patronal
SINDIHOSPA/RS e fui ainda o único Preposto Judicial da empresa em todos os seus
processos trabalhistas interagindo com a equipe de Advogados, e vivenciando in
loco o ambiente da Justiça do Trabalho. Crie ainda um RH organizado com
Entrevistas de Seleção bem realizadas e formei uma equipe tendo um Auxiliar e
um Assistente de RH, além de uma Técnica de Segurança do Trabalho.
Portanto, de Auxiliar cheguei a
Supervisor de RH, e quando saí desta empresa migrei em Setembro de 2004 para os
RHs das áreas de Transportes Rodoviários, onde novamente aprendi e cresci
muito, chegando, inclusive, a Gerente de RH em 2007, história esta que posso
contar futuramente noutra postagem.
Neste processo aqui contado, a
mensagem que quero demonstrar aos leitores é a de que devemos nos automotivar
também, transformarmos dificuldade em desafios, mantermos nossa persistência e
criar um objetivo e nos focarmos a atingi-lo.
A prova disto é que 10 anos depois
da minha saída do SENAC/RS por na época ser considerado um empregado Auxiliar
de RH com pouco conhecimento em 1996, voltei para trabalhar neste mesmo
SENAC/RS noutra condição em 26 de Março de 2004 como Professor de RH, tendo
aprovado num processo seletivo rígido com 2 Entrevistas com coordenadoras e
gerentes de Ensino e por uma Microaula à elas ministradas, onde puderam
constatar o meu grande conhecimento para ensinar na mesma área na qual outrora
eu apenas aprendia. Enfim, uma saída por pouco conhecimento recebeu em
contrapartida um reentrada por um profundo conhecimento.
Quando ingressei pela 1ª vez numa
sala de aula no mesmo prédio onde outrora fora demitido, relembrei as duas
situações distintas de conhecimento que marcaram a minha vida, e senti muita
autoestima de ter superado este desafio com tamanha reviravolta e hoje agradeço
ao gestor impaciente e sem capacidades de desenvolvimento de equipe que me
demitiu, pois, talvez, se não fosse ele, eu não teria passado pelos novos
desafios que levaram minha carreira a outro patamar. Cheguei ainda a Gerente de
RH, enquanto ele saiu da área para atuar noutra.
Hoje na minha carreira já não sou mais professor do
ensino profissionalizante de RH, pois, sou agora professor universitário da
educação superior em RH e também em Administração, e desejo que muitos dos meus
leitores obtenham reviravoltas como estas em suas vidas profissionais.
No link a seguir consta um vídeo que complementa esta minha postagem caso queira acessar:
https://youtu.be/3P1G3ZKEaX4