A pedagogia é uma ciência do
ensino que trata dos princípios e dos métodos para assegurar a melhora da
qualidade da educação tanto na administração da mesma e das escolas, como no efetivo
desempenho do magistério através dos professores.
Os profissionais pedagogos são
formados em cursos superiores que os habilitam para dinamizar o setor de
educação pública e privada e para lecionar na educação básica como professores.
Profissionais com mestrado em acadêmico em educação se habilitam ainda para
lecionar no ensino superior como professores e para atuarem como pesquisadores
na educação.
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Os pedagogos são capacitados para
planejar, organizar, coordenar e avaliar processos educativos, tanto nas
escolas, como fora delas, e para serem professores na educação infantil e nos
anos iniciais do ensino fundamental para crianças, jovens e adultos, no EJA,
além das matérias pedagógicas do ensino médio. Também são aptos para assumir
posições de liderança em escolas como dirigentes e como assessores pedagógicos
de secretarias.
Portanto, a pedagogia é completamente útil dentro do ambiente empresarial,
principalmente, quando nos referimos aos programas de treinamento e de desenvolvimento das empresas, que primam pela capacitação de seus empregados.
Embora para se atuar na área de
treinamento e desenvolvimento, não se requeira que o profissional seja
essencialmente um pedagogo, é imprescindível que para a real efetividade dos
programas de T&D tenha o
profissional responsável ao menos as noções pedagógicas.
No entanto, o que na prática
ocorre, é que em algumas empresas a área de Capacitação e Desenvolvimento fica aos cuidados de um profissional
formado em pedagogia, com altos conhecimentos desta ciência, e noutros casos
com profissionais de outras áreas, principalmente administradores, psicólogos e
tecnólogos em RH, com boas noções pedagógicas e numa boa parte restante, com profissionais
de outras áreas ou até mesmo uma minoria de pedagogos mal formados ao oposto da
maioria destes profissionais, e infelizmente simplesmente ignoram diversos
princípios pedagógicos na gestão da área de Capacitação e Desenvolvimento.
É inconcebível, embora ocorra,
que alguns profissionais de RH responsáveis pela área de Capacitação e Desenvolvimento, seja como supervisores, seja como
gerentes, jamais tenham lido algum livro pedagógico e que desconheçam os
princípios dos pensadores da pedagogia
mundial, o que na administração
chamaríamos dos gurus da pedagogia.
Assim não só nomes, como principalmente,
princípios e ensinamentos de pensadores da pedagogia como Paulo Freire, Antonio Nóvoa, Edgar Morin, Philippe
Perrenoud, Jean Piaget, Lev Vygotsky, entre
outros, não são levados em conta no planejamento,
organização e implantação dos programas de Capacitação e Desenvolvimento.
Então defendo a tese de que para
você possuir um efetivo programa de
Capacitação e Desenvolvimento numa empresa é imprescindível que haja conhecimentos pedagógicos, oriundos não apenas da administração, como também o da pedagogia.
Alguém pode entender que a
pedagogia esteja voltada apenas a alunos, professores e escolas, o que é um
grave erro, pois, os conhecimentos desta ciência podem ser transferidos para a esfera empresarial substituindo alunos por treinandos, professores por instrutores e escolas por empresas num novo contexto.
Assim, todos os ensinamentos da
pedagogia para cada um destes atores citados, não só podem, como devem ser
adaptados também à realidade empresarial e passarem a fazer parte essencial nos
programas de capacitação e
desenvolvimento das empresas.
A ciência pedagógica na realidade é até bem mais ampla do que as
políticas de capacitação e
desenvolvimento em vigor em diversas empresas, e, é indiscutível que um professor tenha uma formação mais complexa
do que um instrutor, que uma escola tenda
a ter maior ambiente de aprendizado do que uma empresa e de que um aluno esteja envolvido cotidianamente
com o ensino do que um treinando.
Assim, uma escola tem alunos e
professores praticamente todos os dias, um professor tende a dar aulas quase
todos os dias, assim como um aluno tende em freqüentá-las diariamente. Logo,
todos os envolvidos neste cenário, estão mais inseridos num ambiente de
vivência do ensino, ainda que nem todos os alunos o alcancem, nem todos os
professores sejam eficazes e que nem todas as escolas sejam estruturadas.
Eu como professor, sempre trouxe
esta visão escolar, discente e docente para dentro das empresas onde atuei como
gerente de RH na qual tinha sob minha responsabilidade além dos outros
subsistemas de RH, o de capacitação e
desenvolvimento. Embora não seja, pedagogo, mas sim administrador de
formação, sempre me ative a importância da pedagogia para os todos os programas
de capacitação e desenvolvimento e
fiz, inclusive, para aprimorar meus conhecimentos uma pós-graduação em formação pedagógica, me licenciando
como professor, o que me garantia uma maior desempenho do que quando eu era
instrutor de treinamentos empresariais, ou seja, nas capacitações eu agia como
um professor.
Assim, pude trazer a tona
princípios pedagógicos na organização de toda a infraestrutura para
capacitações, na seleção e na formação de instrutores e nas metodologias de
ensino no âmbito das empresa nas quais gerenciei a área de RH e dentro dela a
área de Capacitação e Desenvolvimento, onde
ainda era instrutor também.
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Abordar a pedagogia por completo
numa postagem é algo impossível, tendo em vista a amplitude e grande riqueza
desta ciência, mas mesmo assim vou discorrer sobre alguns dos principais pensadores da pedagogia
sobre apenas alguns, dos inúmeros bons princípios destes que colaboram para a
área de capacitação e desenvolvimento
se observados no RH.
O célebre autor português Antônio Nóvoa define que o aprender se concentra em dois pilares: a
própria pessoa, como agente, e a escola,
como lugar de crescimento profissional
permanente. Assim, numa empresa, é
necessário que o treinando faça a sua
parte se comprometendo, motivando e aplicando o que lhe é ensinado, e a empresa a sua, como um local que favoreça o
crescimento profissional de seus empregados, propiciando planos de carreira, gestão por competências,
e, principalmente, programas eficazes de capacitação
e desenvolvimento que aumentem a empregabilidade dos empregados.
Para Nóvoa o professor precisa ser reflexivo, assim, numa empresa o instrutor também, logo,
ele precisa a cada treinamento
ministrado analisar como foi o mesmo, no que ele foi bem e no que ele
precisa melhorar.
O nobre autor brasileiro Paulo Freire definiu que saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção e construção. Assim,
numa empresa cabe ao instrutor ser
dinâmico e criar estratégias para que o treinando aprenda conjuntamente, e
ajude a construir o aprendizado de si próprio. Pode-se para isto realizar
dinâmicas de grupos, jogos, debates, pesquisas dirigidas e reflexões grupais
como algumas das técnicas dentre diversas outras existentes.
Vinculando na educação
empresarial a conduta do instrutor de capacitação com a do professor, trago que
Freire defendeu que para ensinar haja um ensino com:
Pesquisa: assim, o instrutor precisa ser um pesquisador no assunto, ou seja, ler e se aprofundar sempre sobre o
mesmo;
Rigor Metódico: o instrutor precisa possuir um plano de aula onde esteja planejado rigorosamente os seus conteúdos
e as competências a serem desenvolvidas nos treinandos;
Diálogo: A aula e o seu ambiente precisam ser participativos, ou seja, não é apenas o instrutor que deve falar;
Curiosidade: O instrutor deve criar na capacitação dúvidas em seus
treinandos, possibilitando e motivando reflexões, novos pontos de vista, e apoiar
os treinandos na busca pelas soluções, deve-se ainda motivar o treinando a perguntar, o que Freire chamava da pedagogia da pergunta;
Criticidade: O instrutor
deve contextualizar a teoria, ou
seja, apresentar a prática da mesma
também citando exemplos e casos reais nas explicações;
Respeito aos Saberes do Educando: O instrutor deve estar consciente
que no público que o assiste e ouve também há saberes e permitir com que os
treinandos se manifestem e até discutam com ele seus pontos de vistas de
modo ponderado e que prevaleça a troca de idéias para a construção conjunta do
saber;
Bom Senso: O instrutor deve ter bom senso, assim sempre que
possível deve agendar capacitações em
horários adequados, não adianta, por exemplo, realizar treinamentos com fim
em horários tardios onde o público tenda a estar cansado ou com sono. Deve-se
realizar um intervalo, propiciando
ao menos água, café e biscoitos, esta pausa e breve alimentação tende a recompor as energias dos treinandos
facilitando o aprendizado;
Reconhecimento da Identidade do Educando: O instrutor deve
respeitar a cultura e a individualidade de cada treinando, assim não se pode
instruir uma turma como se todos fossem iguais, deve-se lembrar que nela existe
uma mistura de perfis de pessoas com
sexos, idades, níveis de escolaridade, motivações, experiências, entendimentos,
culturas, etc, diferentes entre si e que exigem uma didática múltipla que contemple todos estes casos. Jamais haverá
uma turma de treinandos homogênea, assim, você como instrutor deve estar
preparado sempre para lidar bem com isto.
Freire fixou, que o professor
ligue o conteúdo a ensinar com o conhecimento que o aluno traz, ou seja,
que se dê sentido prático e
significativo ao conteúdo ministrado, assim, o instrutor deve trazer a teoria por ele explicada a exemplos
vivenciados direta ou indiretamente pelos treinandos, o que se consegue
permitindo que eles participem das aulas com exemplos.
Jean Piaget, um célebre pensador suíço, defendeu que o aprendizado se dá pela aproximação do
aprendiz com o objeto de ensino, assim, o instrutor deve buscar isto
permitindo que treinando visualize o que
está aprendendo, seja através de exemplos
práticos, seja através de recursos audiovisuais. Quando possível pode ainda
permitir o toque o do treinando, o que muito ocorre principalmente em
capacitações operacionais, por exemplo, de operação de máquinas, etc. Por
exemplo, em capacitações como as de operadores de empilhadeiras, o treinando
após a teoria se aproxima do objeto na etapa prática do mesmo quando ele
próprio opera a empilhadeira.
O pensador bielo-russo Lev Vygotsky, definiu que para o
aprendizado, é essencial que haja interação
social entre os participantes, que uma pessoa
aprende também com a outra, assim, o instrutor deve ter uma aula participativa onde todos
treinandos possam se expor e ajudarem a
esclarecer dúvidas dos demais colegas treinandos. O instrutor deve ainda,
reservar na aula momentos de interação
social, como dinâmicas de grupo,
trabalhos grupais e um momento de
integração ao começo e ao fim do evento.
Edgar Morin, um pensador francês, por sua vez, define sete saberes necessários para a educação do
futuro, diz que os erros ocorridos
devem integrar o aprendizado, ou seja, deve-se estudar os motivos que geram os erros e aprender com eles. Para ele
o conhecimento não pode ser fragmentado,
assim, deve haver uma ligação entre as
diferentes disciplinas e levar em consideração
a identidade humana e ensinar a compreensão mútua entre todos.
Assim, deve-se ter nos planos de capacitação e de desenvolvimento,
conteúdos, como comunicação e trabalho
em equipe. Morin defende ainda que se ensine
a enfrentar a incerteza, logo, deve-se ensinar
as pessoas a lidarem com planejamentos flexíveis. Por fim, este autor traz
ainda a necessidade da realização da educação
ambiental e da cidadania global, pontos estes que podem ser inclusos nos diversos
itens das capacitações.
O pensador suíço Philippe Perrenoud definiu 10 competências para
que o professor tenha a capacidade de
ensinar, o qual numa empresa podemos
aplicar ao instrutor:
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem: O instrutor deve
construir um clima propício à aprendizagem estimulando
perguntas e participações gerando uma aula
dinâmica e envolvente;
2. Administrar a progressão das aprendizagens: O treinando deve saber o rumo para que o ensino está indo,
as etapas e objetivos do mesmo e ser
gradualmente acompanhando no avanço
da sua aprendizagem;
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação:
Significa saber e conseguir lidar em uma mesma aula com as diferenças
de perfis dos treinandos em turmas heterogêneas com misturas de sexo,
idade, níveis de escolaridade e de QI, motivações, etc;
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho:
Significa que o instrutor deve ser democrático,
permitir que os alunos se envolvam nas
aulas, não centralizando tudo em si, permitindo opiniões e idéias;
5. Trabalhar em equipe: Significa que o instrutor deve trabalhar em
regime de cooperação com os demais instrutores e colegas de
trabalho, o que lhe dará maior força e aprendizado;
6. Participar da administração da escola: Numa empresa o instrutor
deve se envolver com a gestão dos
programas de capacitação e
desenvolvimento da empresa, com os planos
anuais de treinamento e matrizes de competências e com o planejamento das estratégias organizacionais de capacitação e de desenvolvimento;
7. Informar e envolver os pais: Numa empresa podemos substituir o papel dos pais, pelo dos
líderes em relação aos subordinados que participam dos treinamentos. Assim,
o instrutor deve manter as chefias
informadas e envolvidas com a importância das capacitações, obtendo um
maior apoio destas em favor da aprendizado;
8. Utilizar novas tecnologias: Ser instrutor significa dominar no mínimo o uso das tecnologias
Microsoft Office como Windows, Word, Excel e principalmente Power Point. Deve
dominar ainda o uso de data show, dvds, sons, além de outros recursos
audiovisuais e de multimídia.
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão: Significa
cumprir os deveres da instrução estando sempre comprometido com a aprendizagem dos treinandos e saber lidar com os
dilemas da profissão, como, por
exemplo, falta de infraestrutra
adequada, de recursos, cultura organizacional da empresa, resistências de chefias para liberarem
subordinados para treinamentos ou deles próprios para participar, etc.
10 Administrar sua própria formação contínua: O instrutor precisa
estar constantemente se qualificando
realizando leituras, pesquisas e tendo participações
periódicas em reciclagens e
outros eventos de capacitação, enfim, deve continuamente
estar estudando, não apenas no ensino
formal, mas também fora dele de modo autodidata.
Por fim, é importante ainda citar
o entendimento do nobre pensador brasileiro Mario Sergio Cortella, que define que somente
é um bom ensinante, quem é um bom aprendente. Assim, somente é um bom
professor ou instrutor, quem é um bom pesquisador do que ensina.