domingo, 26 de março de 2017

Motivação e Carreira: História da Vida Profissional Prof. Juliano: Parte 1

É comum discutir-se sobre motivação, cujo conceito mais adequado é um motivo para se agir, portanto, motivação significa essencialmente que se crie uma causa para buscar-se a ação, é algo que parte também de dentro para fora de cada um de nós, ou seja, temos que nós mesmos criar tais motivos para agirmos traçando objetivos a serem atingidos. Há quem entenda que a motivação parta apenas de cada um de nós, o que procede em parte ao meu ver, realmente o maior responsável por ela somos nós próprios, não podendo delegar isto aos outros ou mesmo às empresas nas quais trabalhamos.

Entretanto, nem todas as pessoas tem conscientização e em certos casos capacidade para se automotivarem, necessitando de apoio e dicas de outras pessoas mais experientes e motivadas, assim, nem sempre se pode ficar esperando que uma pessoa se motive sozinha dependendo do perfil dela. 

Entendo, que a motivação tenha duas inspirações, uma da própria pessoa e outra de fora de alguém que a ajude caso seja preciso, não fosse assim, todo mundo estaria motivado sozinho, sabendo como e quando agir, o que num mundo como o nosso nem sempre ocorre. Claro que não ajude alguém de fora ou mesmo uma empresa tentar motivar alguém se a pessoa mesma não fizer a sua parte colaborando.

Feita esta breve introdução, na qual ouso contrariar em parte a literatura que defende que a motivação seja algo interno de cada um apenas, vamos ao foco desta minha postagem de hoje 26 de Março de 2017 que marca mais um ano do meu ingresso como Professor presencial numa sala de aula, sendo uma data especial para mim, optei por dividir parte da minha história de vida profissional, para ajudar a outros a também se motivarem.

Imagem Prof. Juliano Correa da Silva
Como infelizmente ocorre até os dias de hoje tive de passar pelo grande desafio da conquista do 1º emprego, onde nossa inexperiência tanto humana quanto profissional são vistas por algumas empresas como um empecilho, para reduzir tal dificuldade na época já no ensino médio optei por realizar um Curso Técnico em Contabilidade, mesmo estando paralelamente servindo ao Exército Brasileiro, algo que tornou meu desafio de concluir o curso mais difícil pelas constantes faltas que as escalas de serviço na guarda me impeliam. Para amenizar meu índice de faltas trocava escalas de guarda aos dias úteis por finais de semana, assim, consegui não rodar por faltas e ao mesmo obter o conhecimento que eu buscava, mesmo bastante cansado por ficar no quartel ao dia, estudar à noite e tirar guardas em fins de semana, enfim, eu descansava muito pouco.

Conclui meu Curso Técnico pouco antes de ser liberado do Serviço Militar, e a partir da minha liberação usei o diferencial de ter servido como uma experiência de vida e maturidade pela disciplina de mim lá exigida, ao mesmo tempo, a conclusão do curso técnico não foi motivo para que eu parasse de estudar, passei a fazer cursos profissionalizantes literalmente seguidos, realmente um após o outro todas as noites e até em alguns dias junto ao SENAC/RS. Eu buscava fechar todas as lacunas de experiência do meu currículo, tendo focado minha carreira para a área de escritórios, então fiz cursos de contabilidade informatizada, auxiliar de escritório informatizado, informática básica, informática focada no pacote Microsoft Office em especial no Word e Excel, que eram e ainda são vitais que se domine para a área administrativa, além de outros diversos cursos que ia fazendo. 

No curso técnico em contabilidade, havia ficado com um gap na área de Departamento Pessoal, processo com o qual tinha passado com nota mínima e com o qual não me identificava, pois, meu alvo era ser um Contabilista focado nas áreas contábil e fiscal, porém, eu havia mapeado que o mercado contábil envolvia ainda o domínio de Departamento Pessoal.

Então também fiz este curso junto ao SENAC/RS, e muito me identifiquei com o processo, mas ainda assim, mantive o foco contábil em minhas procuras por emprego, mesmo sem abrir mão de outras oportunidade na área de escritório, minha missão era árdua, entrevistas até ocorriam mas o fator experiência profissional era sempre um embaraço e numa época onde os estágios não eram difundidos e bem aceitos como hoje.

Ao invés de me desanimar com cada reprovação em entrevista, eu refletia ao final de cada uma onde eu deveria melhorar, tanto no meu desempenho nelas, como no meu currículo, enfim, tirava isto como um aprendizado que cada vez mais me motivava, assim, sempre me mantinha eufórico e tinha um desempenho gradualmente melhor nas mesmas.

Na época o SENAC/RS instituição na qual era um aluno frequente, criou uma unidade de serviço de empregos chamado SENAC EMPREGOS que muito sucesso fez no Sul, e que cadastrava seus alunos e ex-alunos para oportunidades no mercado, após algumas entrevistas em outras empresas, certo dia fui surpreendido para realizar uma entrevista no próprio RH do SENAC/RS. Fui muito bem na entrevista com a psicóloga e tive um bom desempenho nas avaliações psicológicas, sendo novamente surpreendido para o encaminhamento numa entrevista final com o Gestor de Departamento Pessoal do SENAC/RS.

Este nobre profissional, ao qual até hoje reconheço e devo o começo da minha carreira, fez uma entrevista onde mais se preocupou em avaliar os meus potenciais e cursos do que a experiência inexistente em empresas anteriores. Somado a isto, o desafio que a mim seria proposto era árduo e repetitivo, o que exigiria muita disciplina, persistência e foco, que naquela ocasião seria recusado por profissionais mais experientes. O desafio era de atualizar mais de 800 fichas de registro de empregados e suas respectivas Carteiras de Trabalho e de Previdência Social - CTPS desatualizadas por mais de 5 anos, em épocas onde inflação tinha prevalecido com reajustes sucessivos a serem anotados mensalmente, além de gozos de férias e contribuições sindicais não anotadas. 

Assim, fui admitido em Dezembro de 1994, para um trabalho de 40h semanais centrado frente a uma máquina de escrever por 8h diárias atualizando fichas ou preenchendo manualmente inúmeras CTPS de empregados. Em pouco tempo a mim foram agregadas outras tarefas rotineiras desprezadas pelos meus colegas mais experientes como a realização de Admissões que eram várias pelo porte da empresa, e a organização constante de arquivos manuais e imensos.

Foi um trabalho inicialmente prazeroso por ser meu 1º emprego, mas a rotina repetitiva passado mais de 1 ano de tarefas rotineiras, não mais significava um desafio. Amenizando tais repetições me foi delegado as homologações de rescisões de contrato junto ao Sindicato, mas minha participação neste processo era limitada a isto.

Realmente apesar das rotinas, experiência eu alcancei, mas não no todo do Departamento Pessoal, então para amenizar isto, desde meu ingresso continuei realizando cursos no próprio SENAC/RS à noite, imediatamente após meu trabalho sobre os processos de Departamento Pessoal, obtendo um conhecimento teórico de toda a área, embora me faltasse espaço e tempo para praticar.
Ciente disto, minha chefia estava preparando um novo estágio de tarefas para mim, mas foi surpreendida por uma demissão sua política e no dia seguinte já tínhamos um novo gestor no Departamento Pessoal.

Este profissional em busca de resultados rápidos e sem nenhuma paciência e nem mesmo interesse em desenvolver a equipe, optou pelo caminho mais simples, o de desligar os menos experientes trocando-os por profissionais prontos do mercado, então poucos meses após a saída do meu 1º gestor fui demitido em Julho de 1996 por ter conhecimento restrito de Departamento Pessoal.
O recomeço novamente não foi fácil, pois, recebia um alto salário no SENAC/RS e uma grande gama de benefícios, os quais certamente abri mão, mas algumas empresas não aceitavam, pois, achavam que meu foco seria retomar ao patamar recuado.

Até que certo dia lendo um anúncio de jornal me deparei com uma vaga de Auxiliar de Escritório para o Departamento Pessoal da Sociedade Gondoleiros, e me candidatei a ela. Fui entrevistado pelo Contador da sociedade, que viu em mim muita qualificação e por uma pretensão salarial alta, que contrariando os demais entrevistadores, aceitou o meu recuo salarial e argumentos de que o que o SENAC/RS me propiciou era também pelo seu grande porte.

Ao chegar na Sociedade em Novembro de 1996, assumi de cara um Departamento Pessoal, que embora pequeno, que tinha uma infinidade de problemas por rotatividade de profissionais deste departamento. Este desafio me permitiu por em prática tudo o que estudei e ainda continuava estudando nos cursos que eu fazia, pois, desenvolvimento é algo contínuo e comigo já era assim. Solucionar tais problemas me permitiu aprender com eles, além disto, sendo um departamento pequeno meu tempo era maior para resolvê-los. 

O problema não era resolver, mas como resolver, para isto a iniciativa é palavra chave, quando meu conhecimento não era suficiente para sanar os mesmos, eu perguntava aos meus professores, lia informativos e sendo preciso visitava órgãos como Ministério do Trabalho, Previdência Social e Caixa Econômica Federal de onde sempre vinha com as respostas. Em menos de um ano deixei o Departamento Pessoal da sociedade ordenado, e mais que isto aprendi muitos processos novos.

Não me limitei a ordenar a casa, mas também de melhorar ela, então passei a informatizar rotinas e a por em prática itens novos como o Trabalho Temporário e contratação de Estagiários, rotinas com as quais eram novas para mim, aprendendo com os próprios órgãos. Implantei entrevistas de emprego, e passei a realizar entrevistas pondo em prática conhecimentos e leituras em livros e cursos de RH. No geral fiquei quase 2 anos na Sociedade a qual reconheço como apoiadora do meu reinício de carreira, até que em Julho de 1998 fui aprovado num processo seletivo para Assistente de Departamento Pessoal na empresa Ecco-Salva Emergências Médicas.

Além de um bom desempenho nas entrevistas com a gerente administrativa e com o diretor geral da entidade, o que alavancou o meu diferencial frente aos demais candidatos, foi o fato de eu ter literalmente Gabaritado um difícil Teste Escrito de Departamento Pessoal, onde muitos eram reprovados ou aprovados como notas baixas segundo a Gerente. Este Gabarito foi fruto de uma mente que estava sempre lendo, pesquisando, praticando e realizando cursos, pois, embora o teste era difícil para mim foi fácil em virtude disto.

Este recomeço de carreira me permitiu ingressar numa empresa sólida, onde meu salário atingiu um patamar adequado e onde novamente muito pratiquei e aprendi, tanto é que em um mês passei de Assistente para Supervisor de RH e nela fiquei por 6 longos anos até Julho de 2004, tendo implementado um RH sólido com processos de Departamento Pessoal ordenados e seguros, pude aprofundar o Departamento Pessoal em sua plenitude implantando e operado a folha de pagamento informatizada, o ponto eletrônico, calculando diferentes tipos de rescisões de contrato de trabalho, férias, etc. 

Meu desenvolvimento foi tão alto que passei a ser Representante da empresa nas Comissões de Negociação Sindical junto ao sindicato patronal SINDIHOSPA/RS e fui ainda o único Preposto Judicial da empresa em todos os seus processos trabalhistas interagindo com a equipe de Advogados, e vivenciando in loco o ambiente da Justiça do Trabalho. Crie ainda um RH organizado com Entrevistas de Seleção bem realizadas e formei uma equipe tendo um Auxiliar e um Assistente de RH, além de uma Técnica de Segurança do Trabalho.

Portanto, de Auxiliar cheguei a Supervisor de RH, e quando saí desta empresa migrei em Setembro de 2004 para os RHs das áreas de Transportes Rodoviários, onde novamente aprendi e cresci muito, chegando, inclusive, a Gerente de RH em 2007, história esta que posso contar futuramente noutra postagem.

Neste processo aqui contado, a mensagem que quero demonstrar aos leitores é a de que devemos nos automotivar também, transformarmos dificuldade em desafios, mantermos nossa persistência e criar um objetivo e nos focarmos a atingi-lo.

A prova disto é que 10 anos depois da minha saída do SENAC/RS por na época ser considerado um empregado Auxiliar de RH com pouco conhecimento em 1996, voltei para trabalhar neste mesmo SENAC/RS noutra condição em 26 de Março de 2004 como Professor de RH, tendo aprovado num processo seletivo rígido com 2 Entrevistas com coordenadoras e gerentes de Ensino e por uma Microaula à elas ministradas, onde puderam constatar o meu grande conhecimento para ensinar na mesma área na qual outrora eu apenas aprendia. Enfim, uma saída por pouco conhecimento recebeu em contrapartida um reentrada por um profundo conhecimento.

Quando ingressei pela 1ª vez numa sala de aula no mesmo prédio onde outrora fora demitido, relembrei as duas situações distintas de conhecimento que marcaram a minha vida, e senti muita autoestima de ter superado este desafio com tamanha reviravolta e hoje agradeço ao gestor impaciente e sem capacidades de desenvolvimento de equipe que me demitiu, pois, talvez, se não fosse ele, eu não teria passado pelos novos desafios que levaram minha carreira a outro patamar. Cheguei ainda a Gerente de RH, enquanto ele saiu da área para atuar noutra.


Hoje na minha carreira já não sou mais professor do ensino profissionalizante de RH, pois, sou agora professor universitário da educação superior em RH e também em Administração, e desejo que muitos dos meus leitores obtenham reviravoltas como estas em suas vidas profissionais.

No link a seguir consta um vídeo que complementa esta minha postagem caso queira acessar:
https://youtu.be/3P1G3ZKEaX4




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