Esta postagem é uma homenagem
minha a esta data semana que finda hoje em 30 de setembro, que é a Semana do
Surdo, pessoas estas com as quais tenho tido a honra de vivenciar experiências
acadêmicas com elas e com seus intérpretes.
A Semana do Surdo, conhecida como
Setembro Azul, é comemorada anualmente entre os dias 26 e 30 de setembro, pois
ambas datas são consideradas magnas para homenagear as pessoas sem audição,
pois, na história brasileira, foi criada no dia 26 de setembro a primeira
escola especial para aluno surdos no Brasil em 1857, pelo prof. Francês surdo
Eduard Huet, sendo posteriormente, instituído tal data como dia nacional do
surdo pela Lei Nº 11.796 de 29 de Outubro de 2008.
Já a data de 30 de novembro é
considerada o dia internacional do surdo, para relembrar um fato triste para os
surdo, que foi a realização do Congresso de Milão na Itália em 1880 que proibia
a Língua de Sinais para a Educação de alunos Surdos.
Para comemorar ambas datas foi
escolhido como cor símbolo a Azul Turquesa, que por ser uma cor viva,
representa a vida e as conquistas de igualdades que vem sendo conquistados
pelos surdos.
Além disto, a cor relembra um
fato desumano e cruel que não apenas os surdos, como todas as pessoas com algum
tipo de deficiência eram identificadas por uma fita azul fixada no braço para
serem identificadas PCD, pessoas com deficiência, e posteriormente, serem cruelmente
assassinadas pelo regime nazista prevalecente na Alemanha durante a Segunda
Guerra Mundial.
Importante ainda salientar, que o
dia 30 de setembro é também o dia do profissional tradutor, que relativo à
tradução dos Surdos é aquele profissional que interpreta a língua brasileira de
sinais, popularmente conhecida pela sigla LIBRAS, das pessoas ouvintes para as
pessoas surdas.
Concluindo esta introdução,
alguns leitores pode estar se perguntando o quão agressiva parece ser a palavra
por mim usada neste texto tratando os PCDs surdos, por surdos e não por
deficiente auditivos, que é uma palavra mais amena e adequada.
Clareando esta dúvida, eu também
outrora pensava assim, e tratava os surdos como deficientes auditivos, até
aprender que deficientes auditivos são as pessoas que ouvem mas que possuem
alguma dificuldade de audição, e surdos são aquelas pessoas que realmente não
ouvem nada, além disto, a minha convivência com surdos e outras pessoas do meio
como os intérpretes, tem me ensinado tal diferença, e que os surdos não se
sentem agredidos por este conceito, pois, não possuem vergonha da sua condição,
pois, são iguais a todos a nós, quando se trata de sermos sempre inclusivos.
Realizadas essas introduções
início, relembro aos meus colegas gestores da área de Recursos Humanos da
importância de utilizarmos todos os rituais para as datas magnas, ou seja,
comemorar as mesmas de um modo formal nas empresa, e nestas se incluem as empresas
que tenham trabalhadores PCDs Surdos, sendo um erro grave eventualmente
deixar-se passar em branco uma data tão importante para tais pessoas. Assim,
algum evento por mais simples que seja deve ser realizado, como por exemplo uma
mensagem coletiva do RH à todos colaboradores, um mimo e cartão aos
profissionais surdos, entre outras realizações para demonstrar que lembramos
deles. E reitero, que isto deve ser feito para todas as demais datas magnas
(aniversários, finais de ano, dia do trabalho, dia de cada profissional, etc), pela
importância dos rituais como estratégia de RH, especialmente do Endomarketing.
Já aos meus outros colegas
professores, público este que também me honra com a leitura deste blog,
gostaria de contribuir eles as experiências que vivenciei e vivencio na
educação superior de alunos surdos, o que também pode ser aplicado pelos demais
colegas da área de RH.
Assim, a ideia é dividir com
todos os métodos que venho utilizando com sucesso e que inclusive, foram
difundidos na minha participação como um dos palestrantes da Semana do Surdo de
uma das universidades na qual leciono, atividade que esta que tive a honra de
ser convidado pela equipe de profissionais intérpretes e de alunos surdos da Instituição de Ensino.
Eu palestrando sobre Métodos de Ensino para Alunos Surdos na Semana Setembro Azul |
Certamente o ideal seria que
todos nós professores e profissionais dominassem a linguagem de LIBRAS, mas por
enquanto no Brasil o cenário não nos favorece ainda a isto, mas em se tratando
de educação, a presença do intérprete tem sido obrigatória, mas mesmo com a
presença deste profissional na sala de aula, o papel do professor é vital para
o aprendizado dos alunos surdos.
Assim o 1º método que uso é a
valorização da Empatia, me conscientizando que o aluno Surdo tem um foco duplo
de visão, pois, precisa prestar atenção em mim como professor e no intérprete
também, o que me leva a realizar uma fala mais moderada e com repetições.
Nesta mesma linha, precisamos
lembra que o tempo de entendimento do aluno surdo é o dobro dos demais alunos, pois,
o tempo de fala de professor é o primeiro e o do intérprete é o segundo, em
resumo o tempo da informação fluir envolve dois profissionais.
Procuro ainda reduzir sempre que
possível a quebra do contato visual da minha fala com o aluno surdo, pois,
impede a leitura labial e também corporal dos meus gestos.
O 2ª método que utilizo é a
integração e a conscientização, pois, primeiramente conscientizo os alunos
ouvintes da condição colega surdo na turma e das estratégias que usarei para
ele, de modo que a turma não sinta estranhamento disto e ao mesmo tempo
colabore. Busco ainda integrar os alunos surdos com os alunos ouvintes, de modo
a favorecer a integração e a inclusão dos mesmos na turma, assim, há uma
mistura em trabalhos em grupos e também em momentos de integração da turma como
passeios, jantares, etc, assim, o aluno surdo não se sente isolado e se reduz
ou mesmo evita-se preconceitos.
Neste contexto, realizo ainda uma
interação plena minha com o profissional intérprete vendo este como um parceiro
na condução do aprendizado e jamais como um auxiliar, o sucesso dele é o meu e
vice-versa no aprendizado. Para isto, acordo total liberdade do intérprete para
interpelar-me em dúvidas não apenas do aluno surdo, como suas, pois, minha
ideia é que ele também entenda, pois, assim traduz com maior domínio o conteúdo
que abordo.
Deixo o intérprete livre para me
dar feedbacks das aulas, das necessidades do aluno surdo e também dele em
termos de aprendizado, e da mesma forma conquisto com ambos o canal livre para
dar feedbacks a eles, das minhas necessidades e eventuais melhorias que se
requeiram nos trabalhos, pois, o aluno surdo é cobrado em igual condições com
os demais em termos de exigência de aprendizado e de responsabilidades.
Nesta linha sempre busco
compreender bem meu de professor, assim, como o papel do meu colega intérprete
e do meu aluno surdo, e a criarmos uma sintonia onde tais papéis sejam sempre
respeitados, mas que ajam sempre em conjunto e com o mesmo propósito, ou seja,
o aprendizado.
O 3º método que faço
utilização, é a de refletir e manter para o aluno surdo, todas as estratégias
que sejam afins para os alunos ouvintes, ou seja, aquelas que são comuns a
ambos, e adapto apenas as estratégias que sejam específicas aos alunos surdos.
Sendo assim, sempre contextualizo
todos os conteúdos, trazendo a teoria para uma prática da realidade, fazendo
ligações com o dia a dia de todos e do mercado, isto facilita o entendimento de
todos, deixa a aula mais envolvente e realística e ainda traz um aprendizado
significativo, que é aquele no qual o aluno entende para que serve o conteúdo
que está estudando e consegue visualizar o mesmo na prática e na sua
importância.
Busco ainda uma aproximação com
toda a turma, nas minhas turmas inexiste a figura do professor distante, sou
muito próximo de todos os meus alunos sem exceções, para isto, em no máximo 3
aulas já chamo todos pelo nome e realizo caminhadas pela sala acompanhando
exercícios classe à classe, tanto dos que me chamam, como dos alunos tímidos ou
mesmo seguros. Isto gera um contato maior, que sempre procuro estender sem
demasia, para alguma conversar pessoal conhecendo mais cada aluno, tornando-se
muitos meus amigos. Creio que a figura do professor como um amigo, facilita o
aprendizado do aluno, além disto, aceito convites destes nas redes sociais e
convido outros. Dias de aniversários e datas magnas como dia do surdo, dia da
mulher, dia do aluno, etc, também não passam batidos em minhas turmas, sempre
há homenagens e mimos a eles. Não esqueço ainda de buscar com a turma se torne
amiga entre si, conscientizando os mesmos de fazerem um Networking para o
presente acadêmico e também profissional.
Ainda diversifico os meus métodos
de ensino para contemplar todos os Estilos de Aprendizagens, pois, temos 4
estilos de aprendizagem, o dos alunos que aprendem mais vendo, o dos alunos
aprendem mais ouvindo, o dos alunos que aprendem mais lendo e dos alunos que
aprendem mais fazendo.
Nesta linha uso o quadro branco, slides
com data show e videoaulas para contemplar os estilos visual e auditivo, textos
e polígrafos para contemplar os estilos que aprendem mais lendo e exercícios
para contemplar os estilos dos alunos que aprendem mais fazendo, tudo isto de
forma mista para que todos alunos desenvolvam o aprendizado coletivo.
Finalmente, no 4º método faço uso
de métodos específicos para o ensino do aluno surdo, realizando uma interação
contínua com a dupla aluno surdo e intérprete, sempre questionando se os mesmos
entenderam e como está o andamento do aprendizado, isto me permite tomar ações
corretivas quando necessário, além de preventivas evitando que a dupla que
fique atrasada em algum entendimento.
Tais questionamentos são feitos
através de pausas cada etapa das explicações, pois, isto evita que uma dúvida
de um meio só seja tratada no fim, dificultando a compreensão do aluno, ao
mesmo tempo demonstra ao restante da turma que eu mesmo como professor abro
canais com minha autoridade ao aluno surdo, evitando constrangimentos de que se
ele mesmo estivesse seguidamente interrompendo as explicações.
Embora o aluno surdo frequente a
mesma aula dos alunos ouvintes e estude exatamente os mesmos conteúdos, a prova
do mesmo é adaptada para ele em questões exclusivamente de linguagem e mesmo
assim em aspectos pontuais como por exemplo a palavra “Admitido na empresa”,
traduzida para “Entrou na empresa”, quando se fala de um empregado contratado
que muito uso em Cálculos Trabalhistas. Esta adaptação é feita em parceria com
o profissional intérprete, pois, o vocabulário de parte dos alunos surdos, é
menos completo do que o das pessoas ouvintes, afora isto a prova é
perfeitamente igual à dos alunos ouvintes em peso, questões e forma de fazer
com ou sem consulta.
Procuro ainda manter sempre um
mesmo profissional intérprete para o aluno surdo, pois, isto permite com que o
intérprete entenda o conteúdo de uma forma completa, o que facilita a tradução
para o aluno surdo, pois, o intérprete é mais que um tradutor quando atua em
parceria comigo, é também um apoiador do aprendizado e tem liberdade para
sinalizar dúvida e necessidades do aluno surdo, mesmo que este mesmo ainda não
tenha se percebido.
Assim, encerro esta postagem, mas
que não finda minhas experiências, pois, quando se atua com alunos PCDs se
aprende dia a dia, tanto com as situações, como com eles, em postagens futuras
trarei dicas de como lido com outros alunos PCDs como Cadeirantes e portadores
da Síndrome de Down.