Umas das ferramentas de gestão da
qualidade mais conhecidas e menos complexas de aplicação é o método 5S, que
embora muito popular no segmento empresarial, nem sempre é usado pela maioria
das empresas.
Como sabemos realmente há algumas
empresas alheias, ou mesmo resistentes aos programas de gestão da qualidade,
onde alguns gestores vêem as políticas da qualidade como algo que engessa a
empresa. Contudo, o que vejo ainda com mais preocupação é e com relativa frequência
é a existência de empresas certificadas pela norma ISO 9001/2008, que não
aderem a ferramenta do 5S. Algumas com a alegação de que a certificação já
contempla os requisitos do programa, o que improcede, pois, nem todos os
mecanismos do 5S estão na norma ISO, outras porque entendem que seria apenas
mais um programa para a empresa se preocupar, e há casos, em que até a empresa
é favorável, mas o programa não é alimentado por parte dos seus gestores por
resistência a mais um programa da qualidade para o qual terão que ajudar a
gerir.
Entendo, ser perfeitamente
compatível e saudável a existência conjunta de mais de um programa da
qualidade, inclusive, em empresas já certificadas pela norma ISO 9001/2008 ou
mesmo participantes de outros programas da qualidade como o PGQP, muito
avançado aqui no Sul.
Também sou convicto que para um
programa de 5S funcionar bem, isto independente da empresa possuir ou não
certificação pela norma ISO 9001/2008, PGQP ou algum outro programa de gestão
da qualidade, logicamente a existência destes ou de outros programas até
facilitam a implantação do 5S, mas não são pilares únicos para ele, mas ao
oposto, tenho até sugerido à alunos e profissionais que me consultam, que
primeiramente implantem o 5S antes de outros programas mais avançados da
qualidade. Afirmo isto, porque todos os programas da qualidade precisam de um
tempo de amadurecimento para funcionarem bem e para que Cultura Organizacional
da empresa a eles se adapte e aceite, reduzindo assim as resistências. Então por
ser mais simples, ter um impacto mais flexível e por ser bem menos oneroso,
entendo que o 5S é um ótimo programa da qualidade a ser implantado
primeiramente, pois, certamente preparará o terreno para os demais programas
mais complexos e causará um impacto com menores resistências a alguns gestores
e colaboradores, ou seja, os empregados de uma empresa. Enfim, o 5S é base para
a Qualidade Total, ou seja, aquela que dissemina a gestão da qualidade pela
empresa inteira.
Importante ainda clarear, que o
programa 5S, assim como diversos outros programas da qualidade, é aplicável a
empresas de qualquer porte, desde microempresas até multinacionais, e tem um
custo baixo de implantação.
O 5 S é uma ferramenta de gestão
da qualidade que surgiu no Japão, logo após a Segunda Guerra Mundial, e que
conjuntamente com outros fundamentos da qualidade ajudou aquele país a se
reerguer e ser a potência atual ainda que é. O fundamento do 5S como programa
de gestão da qualidade, se refere a 5 palavras de origem na língua japonesa que
iniciam pela letra S e que na língua portuguesa foram precedidas da palavra
Senso e seguidas da tradução de cada uma, assim SEIRI significa Senso de
Utilização, SEITON que diz respeito ao Senso de Ordenação, SEISO que é Senso de
Limpeza, SEIKETSU que representa o Senso de Saúde e SHITSUKE que é o Senso de
Autodisciplina.
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Agora vamos a questão de como
implantar um programa de 5S numa empresa?
1 - Primeiramente obtenha a
autorização e o apoio da Diretoria da empresa, pois, o sucesso de todos os
programas da qualidade dependem do endosso e do comprometimento da alta
direção. Vindo de cima o programa obtém maior autoridade e respeito frente a
todos na empresa, mas mesmo assim, os demais membros da empresa precisam ser
conscientizados e motivados a colaborarem. Você será o Representante da Direção
frente aos Programas da Qualidade e deverá periodicamente enviar para ela
relatórios do andamento dos programas e negociar com a mesma os recursos
necessários para o bum funcionamento da qualidade;
2- Assim, secundariamente,
planeje e organize um forte treinamento de conscientização para todos os
empregados da empresa sobre o programa 5S, incluindo como participantes além
deles, também os próprios gestores das áreas, pois, todos serão corresponsáveis
pelo bom funcionamento do programa, isto, ainda servirá para reduzir as
resistências. Neste treinamento não apenas deve-se abordar os fundamentos e o
funcionamento do programa 5S, mas também, as vantagens que o mesmo trará tanto
à empresa, como aos próprios gestores e empregados. Crie um espaço para
esclarecer as dúvidas e principalmente ouvir as ideias dos participantes que
possam ser acrescidas ao programa 5S, isto tende a motivar e comprometer uma
grande parte deles, pois, tendem a se sentir colaboradores do programa;
3- Em terceiro mapeie todas as
áreas da empresa buscando compreender os pormenores do funcionamento de cada
uma delas, os recursos envolvidos, em resumo o processo como um todo, para a
seguir em conjunto com os gestores definir a forma como que cada área
participará do programa e criarem ainda indicadores de monitoramento do
desempenho de cada área;
4- Crie um Comitê de Gestão da
Qualidade sob sua presidência por ser o Representante da Direção na qualidade,
envolvendo representantes de diferentes setores, treinando este pessoal para
serem auditores do programa. Eles devem receber além de um treinamento mais
profundo sobre o programa 5S, um treinamento dos princípios da qualidade e das
técnicas de avaliação e de auditoria da qualidade a ser feita periodicamente em
todos os setores da empresa. É vital que nenhum auditor audite a sua própria
área, tanto para ser imparcial, como principalmente, porque quem está de fora
tem uma maior facilidade para perceber melhorias, pois, não está habituado com
o funcionamento atual de cada área. Defina ainda o calendário anual de
Auditorias e a Periodicidade delas, que deve ser no mínimo semestral, mas se
for por prazo menor melhor, pois, mantém o programa 5S mais forte ainda.
O 5S envolve conceito de
qualidade no o uso e na disponibilidade de tudo, tanto no produto, como nos
processos, operações e ambientes de trabalho, incluindo, documentos, ferramentas, máquinas,
equipamentos, materiais, infraestrutura, ambiente e principalmente todas as
pessoas de uma empresa. Assim, todas as pessoas da empresa, independente, dos
cargos, devem participar, assim, como todas as áreas, sejam elas
administrativas, comerciais, operacionais, produtivas ou mesmo gerenciais e
diretivas.
É aconselhável que se implanta
cada S por etapas, observando a ordem abaixo:
1ª Etapa: SEIRI - Senso de
Utilização: Este S consiste em separar com bom senso tudo o que é útil do que é
inútil, o que for útil deve não apenas permanecer como ter o seu uso
intensificado, o que for inútil, deve ser descartado, ou dependendo do caso,
adequado de forma que se torne útil. O princípio é que selecionando aquilo que
é necessário, do que for desnecessário, melhora-se a organização e o espaço do
setor e consequentemente a facilidade, precisão e rapidez para o acesso à
informações, documentos, etc. Facilita ainda a higienização do setor e
organização e redução de arquivos, estoques, etc.
É muito importante que a
realização do deste senso seja feita exclusivamente pelas pessoas ligadas ao
setor e que dominem muito bem o funcionamento do departamento e suas
necessidades, principalmente quando tal fato envolver documentos. Não se pode
estabelecer uma regra geral para descarte de documentos levando em consideração
apenas prazos ou datas internas, pois, existem documentos legais e que devem
respeitar a Legislação Fiscal ou Trabalhista, sobretudo, nos setores de Contabilidade,
Finanças e RH, além de alguns outros.
2ª Etapa: SEITON - Senso de
Ordenação: Este S busca organizar cada coisa no seu devido lugar, e se alguma
coisa ainda não tem lugar definido, propiciar a definição dele. Assim, o
princípio é que estando as coisas sempre ordenadas, evita-se além da desordem e
falta de espaço, a perda de tempo e o desgaste mental e por vezes físico para encontrá-las,
pois as coisas estarão sempre organizadas para um acesso imediato.
Na prática, deve-se identificar
as coisas e ambientes com etiquetas, estantes, placas e outras sinalizações,
além é claro de mantê-las sempre em ordem.
3ª Etapa: SEISO - Senso de
Limpeza: É o S que preza pelo ato de todos de não apenas limpar as coisas, como
também, mantê-las limpas. Isto envolve tanto a higiene dos setores, como também
das pessoas que nele trabalham. Logo, o princípio é que zelar pela higiene,
além de permitir uma saúde mental e física, também propicia um clima mais
harmônico de trabalho, pois, se todos estiverem comprometidos com a higiene,
evitam-se conflitos.
Esta limpeza envolve tudo, ou
seja, o chão, as paredes, os tetos, as mesas, as gavetas, os armários, as
estantes, os arquivos, os computadores, as ferramentas, máquinas e
equipamentos, banheiros, etc, e mesmo a higienização pessoal de cada um, como
barba, cabelos e unhas aparadas, vestes limpas, sapatos adequados, etc.
4ª Etapa: SEIKETSU - Senso de Saúde: Trata-se um S que busca tornar
os hábitos saudáveis como um padrão abrangendo as questões humanas em geral,
como um todo, portanto, ligadas à aspectos físicos, mentais, sociais, financeiros
e ambientais. É um princípio que defende que pessoas saudáveis produzem mais e
melhor, envolve tanto à saúde pessoal de cada um, como também a saúde coletiva
e laboral, o que faz que neste caso a empresa também deva investir em boa
iluminação, boa ventilação, em melhorias nos ambientes de escritórios e chão de
fábrica, assim como naqueles ambientes de uso comum como banheiros, refeitórios,
portaria, estacionamento e pátio, observar aspectos ergonômicos, disponibilização
de EPIs e EPCs, que são os equipamentos de proteção individual e coletiva para os
empregados, etc.
É importante ainda que a empresa se preocupe com a saúde mental dos seus membros, para isto, deve-se evitar a ocorrência do Assédio moral ou Sexual, assim, prezar-se pela prevenção e administração dos conflitos e pela manutenção de um bom ambiente de trabalho, tanto no aspecto físico, como mental.
É importante ainda que a empresa se preocupe com a saúde mental dos seus membros, para isto, deve-se evitar a ocorrência do Assédio moral ou Sexual, assim, prezar-se pela prevenção e administração dos conflitos e pela manutenção de um bom ambiente de trabalho, tanto no aspecto físico, como mental.
5ª Etapa: SHITSUKE - Senso de Disciplina
e Autodisciplina: É um o S que preza pelo cumprimento dos deveres e das responsabilidades
de cada um, onde todos devem mutuamente seguir as normas e procedimentos.
Trata-se de um princípio amplo que ainda envolve a ética, o comprometimento e a
educação de cada pessoa, levando em consideração tanto à disciplina dela quanto
às normas da empresa, como a sua autodisciplina, ou seja, que a pessoa faça as
coisas também sem fiscalização.
Uma vez implantado o programa 5S, deve-se zelar pela manutenção do programa, tanto pela medição periódica dos indicadores em cada área, como pela realização periódica de auditorias internas na empresa, preferencialmente através de duplas de auditores, devidamente capacitados, que sejam analíticos, que tenham bom senso e relacionamento interpessoal, além de imparcialidade com setores que não devem ser os seus.
Os eventuais problemas ou falhas
encontradas no cumprimento do programa 5S pelas áreas nas auditorias internas
realizadas, devem ser registrados em
relatórios de não conformidade com o programa do 5S, e uma vez aberto tal
documento de não conformidade, deve-se criar um plano de ação para a correção
do problema a ser realizado pelo gestor da área não conforme, no plano deve
constar um prazo adequado para a solução do problema.
As não conformidades, podem ser
enquadradas em um ou mais Sensos, por exemplo, a ausência injustificada a um
treinamento fere o senso de disciplina apenas, e se for um treinamento ligado à
segurança e saúde no trabalho fere então dois Sensos, incluindo o senso de
saúde. Os descumprimento dos padrões de descarte seletivo do lixo, realização
de refeições fora do refeitório e uso de copos sobre as mesas de trabalho,
ferem tanto o senso de disciplina, como o senso de ordenação. As sanções
disciplinares recebidas por um empregado que tenha cometido uma falta grave, ou
mesmo, atrasos e faltas ao trabalho não justificadas, podem ser enquadradas no
senso de disciplina.
Numa das empresas onde atuei
normalmente registrávamos por fotografias e até vídeos todas as melhorias
propiciadas pelos programas de gestão da qualidade, dando ênfase ao antes e
depois, registrando ambas situações. Isto permite uma visão clara das melhorias
por parte de todos, visto que apresentávamos as fotografias em treinamentos,
nos murais e na intranet, favorecendo a conscientização e apoio aos programas,
além de registrar um histórico das conquistas.
O Antes e o Depois na Qualidade |
No geral o programa 5S indiscutivelmente permite à empresa vantagens como a redução de custos e desperdícios, um maior controle, aumento e otimização de seus espaços, administração do tempo, redução de acidentes, conservação de ferramentas, máquinas e equipamentos, melhoria do clima organizacional, entre outras inúmeras vantagens, pois, o programa permite a melhoria contínua numa empresa.
Algumas empresas ainda realizam
espontaneamente a premiação dos empregados dos setores que cumprirem os
requisitos do programa do 5S fornecendo brindes, cestas básicas, valores, etc,
neste caso, deve-se antes de definir tais premiações como regra consultar o
departamento jurídico da empresa sobre a possibilidade de se fazer e como se
fará para ter-se menores problemas trabalhistas e fiscais, pois, há sério risco
de que tais valores sejam enquadrados como salários dos empregados, sofrendo
assim, as demais repercussões legais e fiscais.