segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Como Realizar um Plano de Cargos e Salários ?

A administração da remuneração é um dos subsistemas da área de Recursos Humanos que pode ser desenvolvida sobre duas óticas separadas, uma mais moderna e inovadora denominada de administração da remuneração por competências e outra mais tradicional e que ainda é usada pela maioria das empresas definida como administração de cargos e salários.
A administração da remuneração por competências se preocupa em traçar a carreira dos colaboradores e em definir a remuneração dos mesmos de acordo com as competências destes, a partir da análise constante e crítica do conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes de cada colaborador, o famoso CHA. Este processo é realizado em simultaneidade com avaliações de desempenho e potencial realizadas também com foco nas competências.
Por sua vez, a administração da remuneração por cargos e salários, tem como foco principal o cargo ocupado pelo colaborador, assim como o peso e a importância do mesmo para definir os salários de cada grupo de empregados situados num mesmo cargo.
A opção por uma forma moderna ou tradicional para a gestão da remuneração, depende muito da cultura organizacional de cada empresa e principalmente das suas estratégias de recursos humanos. Ambas as formas de gestão remunerativa possuem seus prós e contras, e ambas são bastante eficientes e eficazes se bem implantadas, mantidas e principalmente definidas e planejadas sobre a  luz estratégica de cada organização.

Assim, pode-se dizer com segurança que ambas as formas são boas estratégias de RH, cabendo a cada empresa definir a que melhor se adéqüe às suas necessidades e realidades. No entanto, para empresas que ainda não possuem uma estratégia salarial definida, aconselha-se a primeiramente aderir a um modelo de gestão da remuneração tradicional, para gradualmente, se assim, quiser, migrar para o modelo moderno da remuneração por competências.
Embora nada impeça o ingresso diretamente da primeira implantação da administração da remuneração no modelo moderno, entendo, que se a empresa primeiramente aderir ao modelo tradicional e fizer a mudança gradual, poderá ela estar na futura ocasião mais madura e organizada salarialmente para um avanço mais sólido rumo a administração salarial moderna.

Um processo de criação e implantação de um sistema de remuneração requer como passo inicial que a empresa trate de planejar e elaborar um plano de cargos e salários, o chamado PCS. Este plano de cargos e salários, é um documento formal e estratégico, que disciplina toda a administração salarial da empresa, incluindo nele, critérios de promoção ou transferências de cargos, valores de remunerações por cargo ou competência, descrições de cargos ou de competências, políticas de cargos e remuneração iniciais para admissão, estruturas salariais, estruturas de cargos por hierarquia, benefícios, etc. Quando for um plano tradicional se volta aos cargos, quando for inovador se volta às competências.

Um plano de cargos e salários permite que a empresa gere um equilíbrio interno em suas remunerações, não permitindo que haja um descompasso da mesma em relação a importância de um cargo ou de competências e um equilíbrio externo de suas remunerações em relação às demais empresas do mercado de modo que a empresa tenha um salário adequado.

Imagem stf.jus.br
O plano de cargos e salários também contribui para captar no mercado bons profissionais, assim como manter os atuais bons profissionais da empresa, pois, colabora para um plano de carreira e para uma remuneração mais justa e adequada, e reduz sensivelmente conflitos salariais na empresa, inclusive, na esfera judicial, pois, existe um regramento justo e transparente das questões salariais.

No entanto, para o desenvolvimento e implementação de um plano de cargos e salários tradicional é necessário que antecipadamente a idéia seja vendida à alta direção da empresa e uma vez sendo comprada seja seguida à risca no mínimo as etapas a seguir citadas.

1ª Etapa - Realizar um Diagnóstico Organizacional: esta etapa visa analisar criticamente sobre a empresa como um todo, entender com profundidade a sua cultura organizacional, seus processos de trabalho, suas áreas, seu organograma, seu negócio e segmento envolvendo principais clientes e fornecedores. Deve-se ainda conhecer nesta etapa as políticas de gestão de RH, seus critérios salariais ou ausência deles, seus cargos e número de ocupantes dos mesmos, e principalmente, os objetivos da empresa contemplados em seu planejamento estratégico e na sua missão, visão e valores. Os problemas que a empresa apresenta também devem ser constatados nesta fase, tais, como conflitos salariais, processos judiciais trabalhistas de equiparação salarial, insatisfações de colaboradores com políticas salariais, índices de rotatividade e de absenteísmo, entre outros.

2ª Etapa – Realizar o Planejamento do Futuro Plano de Cargos e Salários: nesta etapa deve-se elaborar um projeto para formalizar o planejamento e aprová-lo frente à alta direção, contemplando neste ainda um cronograma e um levantamento de custos do mesmo.

3ª Etapa – Realizar a Divulgação e Conscientização do Futuro Plano de Cargos e Salários: esta etapa tem como objetivo disseminar a informação de que será realizada a implantação de um plano de cargos e salários e principalmente de realizar uma conscientização de todos os colaboradores quanto à importância do mesmo e a forma com que o mesmo será construído, assim, como principalmente esclarecer que este plano de cargos e salários não necessariamente implicará em aumento salarial para todos, pois, haverão casos de salários já estarem adequados. Isto também reduzirá os ruídos de comunicação e eventuais inseguranças que podem ser geradas por falta de informação entre os colaboradores. Isto deve se dar a partir de palestras, reuniões e informativos, incluindo, a intranet.

4ª Etapa – Realizar a Análise e Descrição de Cargos:  é uma das etapas mais demoradas e trabalhosas em face da sua complexitude. Esta etapa envolve a coleta de dados dos cargos e dos ocupantes através de questionários, entrevistas e observações locais, ocasião na qual a partir destas informações coletadas são realizadas as descrições de cargo que incluirão, além das atividades dos mesmos, os seus requisitos.

5ª Etapa – Realizar a Avaliação de Cargos:  Esta etapa visa a partir de uma avaliação criar um equilíbrio interno entre os cargos e seus respectivos salariais, analisando os cargos mediante um comitê de cargos e salários composto pelo gerente de RH e pelas gerências das demais áreas onde todos avaliam todos os cargos de todas as áreas. Para isto deve ser definido qual o método de avaliação a ser usado, sendo o mais usual o método de pontos, o qual particularmente recomendo, por dificultar a parcialidade da avaliação tendo em vista ser quantitativo. Métodos qualitativos como escalonamento, embora também usados e fáceis de entender, avaliam do cargo mais simples para o mais complexo, no entanto, são arbitrários e sujeitos a julgamentos mais parciais dos avaliadores. 

O método de pontos o qual recomendo, é quantitativo, e por usar valores abstratos praticamente impede qualquer chance de parcialidade na avaliação, além disto, é bastante sistemático e preciso, embora bastante trabalhoso e demorado e cuja explicação demanda maiores detalhes e empenho, por ser de difícil explicação aos colaboradores. A análise se dá por fatores que igualmente são definidos pelo comitê, tais como: experiência, nível de escolaridade, grau de responsabilidades, etc. Assim os cargos são hierarquizados internamente.

6ª Etapa – Realizar uma Pesquisa Salarial: a etapa visa o alcance do equilíbrio externo dos salários da empresa com os praticados pelo mercado a partir da comparação salarial dos cargos da empresa com os salários e cargos de outras empresas do mercado, preferencialmente, do mesmo segmento e porte similar e mesma região geográfica. Para isto a equipe de cargos e salário precisa ter uma sólida parceria com outros RHs do mesmo segmento, ou então, comprar pesquisas prontas do mercado, nem sempre confiáveis.

7ª Etapa – Realizar uma Estrutura Salarial: esta etapa compatibiliza a avaliação de cargos com a pesquisa salarial e gera um equilíbrio interno entre os cargos da empresa entre si buscando que cada cargo internamente tenha o seu valor de salário adequado,  e gera em paralelo um equilíbrio externo buscando com que os cargos e salários da empresa sejam adequados ao mercado. Cria-se disto uma tabela salarial organizada.

8ª Etapa – Formalizar e Definir as Normas de Gestão Salarial: aqui nesta etapa são fixadas normas para criação de novos cargos, fusão ou exclusão de cargos, titulações de cargos, auditorias periódicas de manutenção do plano de cargos e salários, formas e periodicidade de revisão do plano de cargos e salários, políticas de alterações salariais, transferências e promoções entre cargos, composição do comitê de cargos e salários, salários de admissão, entre outros fatores.

9ª Etapa – Análises e Decisões de Enquadramento: nesta etapa são tratados todos os problemas constados nas demais etapas que se relacionem a cargos com salário muito acima ou muito abaixo do mercado ou dentro dos próprios padrões internos da empresa, ou seja, os casos que geram desequilíbrio salarial tanto interno ou externo e que precisem ser tratados isoladamente. São casos especiais que envolvem decisões estratégicas, podendo, repercutir em demissão dos ocupantes ou readequação de suas funções e responsabilidade, mas jamais de rebaixamento salarial o que é proibido pela lei brasileira.

10ª Etapa – Implantação do Plano de Cargos e Salários: Esta é a etapa derradeira de todo o grande esforço, pode levar de 3 meses a 12 meses em média para ocorrer de forma sólida. Deve ser bem divulgada e conscientizada na empresa a partir da existência deste novo plano de cargos e salários de modo com que seus benefícios sejam potencializados.

Muito embora discutimos nesta postagem as etapas de implantação de um plano de cargos e salários, munido apenas desta leitura, não bastará ao leitor a sua possibilidade de implantação, recomendo a leitura complementar da postagem que fiz aqui de “Como Realizar uma Descrição de Cargos”, assim, como de outras que futuramente poderei expor aqui e de livros especializados no assunto como por exemplo Administração de Cargos e Salários do autor Benedito Rodrigues Pontes, o qual também dentre outras fontes, me amparei ao lidar com o assunto.

8 comentários:

  1. Olá Professor, parabéns pelo blog e todo conteúdo! Muito esclarecedor e me ajudou bastante! Eu gostaria de tirar uma dúvida com você, se for possível claro.
    Estou descrevendo os cargos, e na minha empresa, erraram no passado em relação à contratação e minha dúvida é:
    Posso mudar a função de Consultor de TI para Analista de Implantação Pleno? Ou consultor está acima de analista e nesse caso seria regredir função? Agradeço muito a sua resposta, abraço!

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    1. Olá Kleber, obrigado pelo elogio, em relação a sua dúvida ela diz respeito à titulações de cargos, realmente o cargo de Consultor está acima do cargo de Analista, haveria uma regressão de função apenas em termos de titulação, em termos legais o que a legislação impede é o rebaixamento salarial, contudo, tal alteração provavelmente será questionada pelo ocupante do cargo e talvez até em processos seletivos pelos quais ele passe futuramente. Uma alternativa é desmembrar as titulações dos Consultores de TI entre Sênior, Pleno e Júnior e enquadrar o empregado como Pleno ou Júnior. Mas ressalvo que o vale na diferenciação de cargos para fins de se evitar problemas judiciais com equiparações salariais, é o que realmente cada cargo faz e não apenas o seu título, por isto, precisas ter muita cautela num novo enquadramento, senão poderás estar criando direitos a equiparações salariais dele com outros, ou de outros com ele. Há situações em que até chega-se a conclusão de não se mexer, dado aos riscos trabalhistas que ela pode causar. É importante ainda consultar o seu departamento jurídico antes de oficializar a alteração. De nada! Prof.Juliano.

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    2. Obrigado mais uma vez!
      Concordo que esse desmembramento pode ser uma boa alternativa nesse momento, vamos analisar o que será feito e como medida corretiva, os novos contratados, já estão sendo admitidos em funções corretas, como analista de implantação, analista de sistema, analista de suporte, enfim. Um abraço professor e parabéns pelo seu trabalho!

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    3. De nada Kleber, que bom que te ajudou, obrigado, sucesso! Abraço, Prof. Juliano.

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  2. Oi professor Juliano o senhor ode me ajudar numa questão: Por que em uma organização deve ser implantado um plano de cargos e salários e somente depois dos demais planos de rh?

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    1. Boa Tarde Leitor, isto não se trata de uma regra, apenas de um aconselhamento, pois, entende-se que um Plano de Cargos e Salários, além de bastante complexo, envolve questões de Cultura Organizacional da empresa, capacitação da equipe de RH e de desenvolvimento de lideranças, para ter um melhor funcionamento. Assim, para que isto funcione em harmonia os demais processos de RH já precisam estar estruturados, tanto porque assim estando, já terão trabalhado a cultura organizacional da empresa, se capacitado e promovido o desenvolvimento das lideranças, tanto porque a Administração de Cargos e Salários é um dos mais complexos processos de RH, sendo natural que os demais seja implementados antes. Porém, isto não significa que nada da implantação do Plano de Cargos e Salários seja feita, algumas etapas desta já devem ser estruturadas em paralelo com outros processos de RH, em especial a descrição de cargos. A gestão de cargos e salários, envolve ainda maturidade profissional, tanto da empresa, como dos líderes e demais empregados, e da própria equipe de RH, levando maior tempo a ser atingida com êxito do que alguns dos demais processos de RH, e somado a isto, quando implantada, haverão pesquisas salariais e delas a busca por um equilíbrio externo entre os salários da empresa com os do mercado, podendo isto importar em aumento de custos com a folha de pagamento, necessitando que a empresa esteja preparada tanto financeiramente, como também culturalmente para permitir o aumento de seus custos, ao passo, que alguns dos outros processos de RH são menos onerosos, tudo isto, contribui para a decisão de que a implantação da Gestão Salarial seja gradual e com os demais processos de RH mais estruturados, até para lhe dar suporte. Atenciosamente, Prof. Juliano.

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  3. boa tarde professor
    o que seria inovação e deficiencias de cargos e salarios cite 3 exemplos de cada por favor
    obrigada

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    1. Boa Tarde Sandra, a inovação seria o enriquecimento das atribuições do cargo, como por exemplo dar maior autonomia ao ocupante, permitir a variação de tarefas e rodízio destas de forma a evitar ou ao menos reduzir pontos de repetição e consequente monotonia, já as deficiências são os problemas do cargo, normalmente originados da inexistência de uma descrição de cargos, ou da sua realização mal feita e sem a consequente análise, tais como tarefas duplicadas, tarefas inúteis ou mesmo tarefas que o ocupante realize sem entender as razões das mesmas. Esta resposta é fruto da minha vivência na gestão de cargos e na minha vida acadêmica, de nada. Atenciosamente! Prof. Juliano.

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