A administração da remuneração é
um dos subsistemas da área de Recursos Humanos que pode ser desenvolvida sobre duas óticas
separadas, uma mais moderna e inovadora denominada de administração da remuneração
por competências e outra mais tradicional e que ainda é usada pela maioria das
empresas definida como administração de cargos e salários.
A administração da remuneração
por competências se preocupa em traçar a carreira dos colaboradores e em definir
a remuneração dos mesmos de acordo com as competências destes, a partir da
análise constante e crítica do conjunto de conhecimentos, habilidades e
atitudes de cada colaborador, o famoso CHA. Este processo é realizado em simultaneidade com
avaliações de desempenho e potencial realizadas também com foco nas
competências.
Por sua vez, a administração da
remuneração por cargos e salários, tem como foco principal o cargo ocupado pelo
colaborador, assim como o peso e a importância do mesmo para definir os
salários de cada grupo de empregados situados num mesmo cargo.
A opção por uma forma moderna ou
tradicional para a gestão da remuneração, depende muito da cultura
organizacional de cada empresa e principalmente das suas estratégias de
recursos humanos. Ambas as formas de gestão remunerativa possuem seus prós e
contras, e ambas são bastante eficientes e eficazes se bem implantadas,
mantidas e principalmente definidas e planejadas sobre a luz estratégica de cada
organização.
Assim, pode-se dizer com
segurança que ambas as formas são boas estratégias de RH, cabendo a cada
empresa definir a que melhor se adéqüe às suas necessidades e realidades. No
entanto, para empresas que ainda não possuem uma estratégia salarial definida,
aconselha-se a primeiramente aderir a um modelo de gestão da remuneração
tradicional, para gradualmente, se assim, quiser, migrar para o modelo moderno
da remuneração por competências.
Embora nada impeça o ingresso
diretamente da primeira implantação da administração da remuneração no modelo
moderno, entendo, que se a empresa primeiramente aderir ao modelo tradicional e
fizer a mudança gradual, poderá ela estar na futura ocasião mais madura e
organizada salarialmente para um avanço mais sólido rumo a administração
salarial moderna.
Um processo de criação e implantação
de um sistema de remuneração requer como passo inicial que a empresa trate de
planejar e elaborar um plano de cargos e salários, o chamado PCS. Este plano de
cargos e salários, é um documento formal e estratégico, que disciplina toda a
administração salarial da empresa, incluindo nele, critérios de promoção ou
transferências de cargos, valores de remunerações por cargo ou competência,
descrições de cargos ou de competências, políticas de cargos e remuneração
iniciais para admissão, estruturas salariais, estruturas de cargos por
hierarquia, benefícios, etc. Quando for um plano tradicional se volta aos
cargos, quando for inovador se volta às competências.
Um plano de cargos e salários
permite que a empresa gere um equilíbrio interno em suas remunerações, não
permitindo que haja um descompasso da mesma em relação a importância de um
cargo ou de competências e um equilíbrio externo de suas remunerações em
relação às demais empresas do mercado de modo que a empresa tenha um salário
adequado.
Imagem stf.jus.br |
No entanto, para o
desenvolvimento e implementação de um plano de cargos e salários tradicional é
necessário que antecipadamente a idéia seja vendida à alta direção da empresa e
uma vez sendo comprada seja seguida à risca no mínimo as etapas a seguir
citadas.
1ª Etapa - Realizar um Diagnóstico
Organizacional: esta etapa visa analisar criticamente sobre a empresa como um
todo, entender com profundidade a sua cultura organizacional, seus processos de
trabalho, suas áreas, seu organograma, seu negócio e segmento envolvendo
principais clientes e fornecedores. Deve-se ainda conhecer nesta etapa as
políticas de gestão de RH, seus critérios salariais ou ausência deles, seus
cargos e número de ocupantes dos mesmos, e principalmente, os objetivos da
empresa contemplados em seu planejamento estratégico e na sua missão, visão e
valores. Os problemas que a empresa apresenta também devem ser constatados
nesta fase, tais, como conflitos salariais, processos judiciais trabalhistas de
equiparação salarial, insatisfações de colaboradores com políticas salariais,
índices de rotatividade e de absenteísmo, entre outros.
2ª Etapa – Realizar o
Planejamento do Futuro Plano de Cargos e Salários: nesta etapa deve-se elaborar
um projeto para formalizar o planejamento e aprová-lo frente à alta direção,
contemplando neste ainda um cronograma e um levantamento de custos do mesmo.
3ª Etapa – Realizar a Divulgação
e Conscientização do Futuro Plano de Cargos e Salários: esta etapa tem como
objetivo disseminar a informação de que será realizada a implantação de um
plano de cargos e salários e principalmente de realizar uma conscientização de
todos os colaboradores quanto à importância do mesmo e a forma com que o mesmo
será construído, assim, como principalmente esclarecer que este plano de cargos
e salários não necessariamente implicará em aumento salarial para todos, pois,
haverão casos de salários já estarem adequados. Isto também reduzirá os ruídos
de comunicação e eventuais inseguranças que podem ser geradas por falta de
informação entre os colaboradores. Isto deve se dar a partir de palestras, reuniões e informativos, incluindo, a intranet.
4ª Etapa – Realizar a Análise e
Descrição de Cargos: é uma das etapas
mais demoradas e trabalhosas em face da sua complexitude. Esta etapa envolve a
coleta de dados dos cargos e dos ocupantes através de questionários,
entrevistas e observações locais, ocasião na qual a partir destas informações
coletadas são realizadas as descrições de cargo que incluirão, além das
atividades dos mesmos, os seus requisitos.
5ª Etapa – Realizar a Avaliação
de Cargos: Esta etapa visa a partir de
uma avaliação criar um equilíbrio interno entre os cargos e seus respectivos
salariais, analisando os cargos mediante um comitê de cargos e salários
composto pelo gerente de RH e pelas gerências das demais áreas onde todos
avaliam todos os cargos de todas as áreas. Para isto deve ser definido qual o
método de avaliação a ser usado, sendo o mais usual o método de pontos, o qual
particularmente recomendo, por dificultar a parcialidade da avaliação tendo em
vista ser quantitativo. Métodos qualitativos como escalonamento, embora também
usados e fáceis de entender, avaliam do cargo mais simples para o mais complexo,
no entanto, são arbitrários e sujeitos a julgamentos mais parciais dos
avaliadores.
O método de pontos o qual
recomendo, é quantitativo, e por usar valores abstratos praticamente impede
qualquer chance de parcialidade na avaliação, além disto, é bastante
sistemático e preciso, embora bastante trabalhoso e demorado e cuja explicação
demanda maiores detalhes e empenho, por ser de difícil explicação aos
colaboradores. A análise se dá por fatores que igualmente são definidos pelo
comitê, tais como: experiência, nível de escolaridade, grau de
responsabilidades, etc. Assim os cargos são hierarquizados internamente.
6ª Etapa – Realizar uma Pesquisa
Salarial: a etapa visa o alcance do equilíbrio externo dos salários da empresa
com os praticados pelo mercado a partir da comparação salarial dos cargos da
empresa com os salários e cargos de outras empresas do mercado,
preferencialmente, do mesmo segmento e porte similar e mesma região geográfica.
Para isto a equipe de cargos e salário precisa ter uma sólida parceria com
outros RHs do mesmo segmento, ou então, comprar pesquisas prontas do mercado,
nem sempre confiáveis.
7ª Etapa – Realizar uma Estrutura
Salarial: esta etapa compatibiliza a avaliação de cargos com a pesquisa
salarial e gera um equilíbrio interno entre os cargos da empresa entre si
buscando que cada cargo internamente tenha o seu valor de salário
adequado, e gera em paralelo um
equilíbrio externo buscando com que os cargos e salários da empresa sejam
adequados ao mercado. Cria-se disto uma tabela salarial organizada.
8ª Etapa – Formalizar e Definir
as Normas de Gestão Salarial: aqui nesta etapa são fixadas normas para criação
de novos cargos, fusão ou exclusão de cargos, titulações de cargos, auditorias
periódicas de manutenção do plano de cargos e salários, formas e periodicidade
de revisão do plano de cargos e salários, políticas de alterações salariais, transferências
e promoções entre cargos, composição do comitê de cargos e salários, salários
de admissão, entre outros fatores.
9ª Etapa – Análises e Decisões de
Enquadramento: nesta etapa são tratados todos os problemas constados nas demais
etapas que se relacionem a cargos com salário muito acima ou muito abaixo do
mercado ou dentro dos próprios padrões internos da empresa, ou seja, os casos
que geram desequilíbrio salarial tanto interno ou externo e que precisem ser
tratados isoladamente. São casos especiais que envolvem decisões estratégicas,
podendo, repercutir em demissão dos ocupantes ou readequação de suas funções e
responsabilidade, mas jamais de rebaixamento salarial o que é proibido pela lei
brasileira.
10ª Etapa – Implantação do Plano
de Cargos e Salários: Esta é a etapa derradeira de todo o grande esforço, pode
levar de 3 meses a 12 meses em média para ocorrer de forma sólida. Deve ser bem
divulgada e conscientizada na empresa a partir da existência deste novo plano
de cargos e salários de modo com que seus benefícios sejam potencializados.
Muito embora discutimos nesta
postagem as etapas de implantação de um plano de cargos e salários, munido
apenas desta leitura, não bastará ao leitor a sua possibilidade de implantação,
recomendo a leitura complementar da postagem que fiz aqui de “Como Realizar uma
Descrição de Cargos”, assim, como de outras que futuramente poderei expor aqui
e de livros especializados no assunto como por exemplo Administração de Cargos
e Salários do autor Benedito Rodrigues Pontes, o qual também dentre outras fontes, me amparei ao
lidar com o assunto.
Olá Professor, parabéns pelo blog e todo conteúdo! Muito esclarecedor e me ajudou bastante! Eu gostaria de tirar uma dúvida com você, se for possível claro.
ResponderExcluirEstou descrevendo os cargos, e na minha empresa, erraram no passado em relação à contratação e minha dúvida é:
Posso mudar a função de Consultor de TI para Analista de Implantação Pleno? Ou consultor está acima de analista e nesse caso seria regredir função? Agradeço muito a sua resposta, abraço!
Olá Kleber, obrigado pelo elogio, em relação a sua dúvida ela diz respeito à titulações de cargos, realmente o cargo de Consultor está acima do cargo de Analista, haveria uma regressão de função apenas em termos de titulação, em termos legais o que a legislação impede é o rebaixamento salarial, contudo, tal alteração provavelmente será questionada pelo ocupante do cargo e talvez até em processos seletivos pelos quais ele passe futuramente. Uma alternativa é desmembrar as titulações dos Consultores de TI entre Sênior, Pleno e Júnior e enquadrar o empregado como Pleno ou Júnior. Mas ressalvo que o vale na diferenciação de cargos para fins de se evitar problemas judiciais com equiparações salariais, é o que realmente cada cargo faz e não apenas o seu título, por isto, precisas ter muita cautela num novo enquadramento, senão poderás estar criando direitos a equiparações salariais dele com outros, ou de outros com ele. Há situações em que até chega-se a conclusão de não se mexer, dado aos riscos trabalhistas que ela pode causar. É importante ainda consultar o seu departamento jurídico antes de oficializar a alteração. De nada! Prof.Juliano.
ExcluirObrigado mais uma vez!
ExcluirConcordo que esse desmembramento pode ser uma boa alternativa nesse momento, vamos analisar o que será feito e como medida corretiva, os novos contratados, já estão sendo admitidos em funções corretas, como analista de implantação, analista de sistema, analista de suporte, enfim. Um abraço professor e parabéns pelo seu trabalho!
De nada Kleber, que bom que te ajudou, obrigado, sucesso! Abraço, Prof. Juliano.
ExcluirOi professor Juliano o senhor ode me ajudar numa questão: Por que em uma organização deve ser implantado um plano de cargos e salários e somente depois dos demais planos de rh?
ResponderExcluirBoa Tarde Leitor, isto não se trata de uma regra, apenas de um aconselhamento, pois, entende-se que um Plano de Cargos e Salários, além de bastante complexo, envolve questões de Cultura Organizacional da empresa, capacitação da equipe de RH e de desenvolvimento de lideranças, para ter um melhor funcionamento. Assim, para que isto funcione em harmonia os demais processos de RH já precisam estar estruturados, tanto porque assim estando, já terão trabalhado a cultura organizacional da empresa, se capacitado e promovido o desenvolvimento das lideranças, tanto porque a Administração de Cargos e Salários é um dos mais complexos processos de RH, sendo natural que os demais seja implementados antes. Porém, isto não significa que nada da implantação do Plano de Cargos e Salários seja feita, algumas etapas desta já devem ser estruturadas em paralelo com outros processos de RH, em especial a descrição de cargos. A gestão de cargos e salários, envolve ainda maturidade profissional, tanto da empresa, como dos líderes e demais empregados, e da própria equipe de RH, levando maior tempo a ser atingida com êxito do que alguns dos demais processos de RH, e somado a isto, quando implantada, haverão pesquisas salariais e delas a busca por um equilíbrio externo entre os salários da empresa com os do mercado, podendo isto importar em aumento de custos com a folha de pagamento, necessitando que a empresa esteja preparada tanto financeiramente, como também culturalmente para permitir o aumento de seus custos, ao passo, que alguns dos outros processos de RH são menos onerosos, tudo isto, contribui para a decisão de que a implantação da Gestão Salarial seja gradual e com os demais processos de RH mais estruturados, até para lhe dar suporte. Atenciosamente, Prof. Juliano.
Excluirboa tarde professor
ResponderExcluiro que seria inovação e deficiencias de cargos e salarios cite 3 exemplos de cada por favor
obrigada
Boa Tarde Sandra, a inovação seria o enriquecimento das atribuições do cargo, como por exemplo dar maior autonomia ao ocupante, permitir a variação de tarefas e rodízio destas de forma a evitar ou ao menos reduzir pontos de repetição e consequente monotonia, já as deficiências são os problemas do cargo, normalmente originados da inexistência de uma descrição de cargos, ou da sua realização mal feita e sem a consequente análise, tais como tarefas duplicadas, tarefas inúteis ou mesmo tarefas que o ocupante realize sem entender as razões das mesmas. Esta resposta é fruto da minha vivência na gestão de cargos e na minha vida acadêmica, de nada. Atenciosamente! Prof. Juliano.
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